tag:blogger.com,1999:blog-8958219150396427952024-02-20T23:44:07.430-03:00hibiscus mutabilisSuelen Safianohttp://www.blogger.com/profile/13596213623669066228noreply@blogger.comBlogger53125tag:blogger.com,1999:blog-895821915039642795.post-9497301687748747032011-05-03T19:01:00.004-03:002011-05-09T18:15:26.854-03:00Um novo melhor amigoNunca reparei nos sons. Nunca até o ano passado.<br /><br />Virei recepcionista em uma escola de música e aí, claro, como as outras 90% das pessoas vai se perguntar que instrumento sei tocar, mas não hesitarei em dizer mais uma vez: até nas palmas eu erro o ritmo.<br /><br />Foi no silêncio daquela recepção e na harmonia das notas aprendi a ouvir. Foram dias sentada naquela cadeira e me empolgava com os alunos novos, que apareciam com as cordas novinhas e a afinação do violão não durava dois dias.<br /><br />É sentir, sempre a emoção de aprender o primeiro acorde, o primeiro ritmo. É Fazer uma amizade. É com ele que você vai chorar, que vai cantar para seu amor, que vai festejar ao som de uma música alegre. É com ele que você vai brigar e vai colocar a culpa nele em algum momento, falar que ele é o errado.<br /><br />Pouco tempo depois, você olhará para ele e vai admitir que a culpa é sua. A falta de conhecimento é sua e, para não te deixar para baixo, ele estará melhor do que nunca e vocês festejarão, mais uma vez.<br /><br />No tempo que trabalhei na escola aprendi a ouvir. Naquele tempo aprendi a falar. Aprendi que não é apenas o cachorro o melhor amigo do homem, o instrumento musical também tem esse papel.<br /><br />Agora olhe para o seu primeiro violão, o mais barato, o mais detonado, o mais amado.<br /><br />Aquele é teu bom e velho amigo, que ouviu tantos palavrões, foi colocado de lado algumas vezes, mas aguarda ansioso por suas mãos.Suelen Safianohttp://www.blogger.com/profile/13596213623669066228noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-895821915039642795.post-69241394192277068152011-05-03T18:51:00.001-03:002011-05-03T18:52:55.198-03:00O retornoDe repente ela voltou.<br />Feliz.<br />Letra maiúscula e ponto final.Suelen Safianohttp://www.blogger.com/profile/13596213623669066228noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-895821915039642795.post-80358726102657091192010-09-09T10:13:00.002-03:002010-09-09T15:21:37.851-03:00SeSe eu morrer, que seja de alegria.<br />Que eu me afogue na melhor gargalhada de minha vida.<br />E que a gargalhada mortífera seja treinada diariamente.<br /><br />Se eu sofrer, que seja de cãibra.<br />Que meu divertimento seja bom o suficiente para deixar suas marcas.<br />E que cada momento seja eternizado em um músculo que contorna os meus lábios.<br /><br />E se eu não rir, prefiro não morrer de tristeza nem sofrer de solidão.<br /><br /><br /><br /><br />.Suelen Safianohttp://www.blogger.com/profile/13596213623669066228noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-895821915039642795.post-78582570655402730632010-09-03T12:33:00.008-03:002010-09-03T13:51:45.465-03:00Tempo IIEu tenho uma amiga que não vive nesse mundo. Raramente consigo falar com ela: não atende o celular, não responde os e-mails, não tem Orkut, Facebook e afins. Ela mora em uma cidade vizinha da minha, então nem encontrá-la no mercado é possível, mas ela é minha amiga.<br /><br />Apesar desse isolamento dos canais de comunicação, quando consigo algum contato, seja por sinal de fumaça, código morse, telegrama ou um telefonema atendido lá pela 20ª tentativa, marcamos nossos encontros e eles sempre rendem boas conversas e deliciosas risadas.<br /><br />Nunca fui à sua casa e ela nunca foi à minha, mas nem por isso ela deixa de ser a minha amiga. Se eu ficar mais de uma semana sem tentar contato, logo recebo um SMS, com sua reclamação sobre a falta de atenção e uma declaração de sua saudade.<br /><br />Isso faz eu lembrar dos tempos de escola. Eu morava a 100 metros da escola onde estudei por sete anos e lá tive um grupo de amigas. Um ótimo grupo de amigas.<br /><br />Eram de lá as amigas que brincavam de “casinha”, Barbie ou que estiveram presentes nos primeiros tombos de roller. Foi com as mesmas amigas que deixei parte desses brinquedos de lado passamos para as bicicletas e para o vôlei, o nosso preferido por anos.<br /><br />Sempre estudei de manhã e nos dias mais quentes, quando éramos dispensadas mais cedo, saíamos da escola e ficávamos sentadas na grama que tinha na frente da minha casa, jogando papo fora, contando os “causos” da nossa vida, jogando com a "brincadeira do copo" (aquela que você teoricamente evoca os espíritos e eles respondem algumas perguntas). Nesses encontros, eu, muito receptiva, corria para dentro de casa e fazia um suco (de pacotinho mesmo) e elas adoravam. Não tenho certeza, mas o apelido de “suco” deve ter aparecido aí:<br /><span style="font-style:italic;">- Suco, faz um suco para nós</span> – e todas caíam na risada.<br /><br />Depois do almoço nos encontrávamos na frente da minha casa ou em qualquer rua do grande Bairro Alto e passávamos a tarde inteira jogando vôlei, isso quando não saíamos de bicicleta em uma grande aventura.<br /><br />Naquele tempo não tínhamos e-mail, as redes sociais não existiam, computador era coisa de rico e celular era coisa de cinema, mas sempre nos encontrávamos e nem por isso elas deixaram de serem minhas amigas.<br /><br /><br /><br /><br />.Suelen Safianohttp://www.blogger.com/profile/13596213623669066228noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-895821915039642795.post-25176939385515148962010-09-01T19:21:00.009-03:002010-09-02T15:06:43.725-03:00PerfumeSerá que não podemos falar sobre como foi o nosso dia, sobre os nossos planos, o quão interessante foi assistir a última estreia ou sobre qualquer bobeira do trânsito caótico das 18h?<br /><br />A verdade é que esse seu silêncio me sufoca e me emudece. Seu anonimato me mata pouco a pouco através do ardor em meu peito e eu nem lembro mais da sua voz, do seu cheiro, das suas preferências. Essas coisas se dissipam como um perfume lançado ao ar: marcante e envolvente, mas frágil. Um vento fraco é capaz de encorajar a fuga do odor e mesmo que seja o melhor, muito dele será esquecido. E o que fica?<br /><br />Fica que ele é o melhor, oras. Bastará aspergir um pouco da essência que a memória volta e ele será, mais uma vez, o melhor.<br />Nossa amizade é como o perfume. Lembra de quando falei sobre a aspersão?<br /><br /><br /><br /><br />.Suelen Safianohttp://www.blogger.com/profile/13596213623669066228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-895821915039642795.post-9623308335788826932010-08-20T13:10:00.000-03:002010-08-20T13:11:16.763-03:00PerguntasQueria que não existisse despedidas definitivas. Assim manteria viva a da esperança do reencontro. Mas até que ponto essa ilusão é válida? Questionou ela ao ver aquele álbum surrado pelo tempo.<br /><br />E se não fossem as fotos, lembrar-me-ia de todos com tanta veracidade? E se ninguém tiver fotos minhas? Alguém nesse mundo sentirá saudades de mim? E a saudade tem validade?<br /><br />As dúvidas não cessaram, mas problema maior foi a saudade que as respostas deixaram às perguntas.<br /><br /><br /><br /><br />.Suelen Safianohttp://www.blogger.com/profile/13596213623669066228noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-895821915039642795.post-54036145339204279762010-08-19T22:12:00.001-03:002010-08-19T22:15:49.663-03:00TempoEra terça-feira, ele tinha 80 anos, as mãos já estavam bem enrugadas e dominadas pelas manchas. Coisas da idade.<br /><br />Entrou na sala, abriu o caderno e tentou achar uma posição confortável para o lápis em sua mão. Estava ansioso pela primeira aula, afinal esperara 80 anos por aquele momento. Linhas mais largas e outras bem estreitas. Abrira seu primeiro caderno de caligrafia.<br /><br />A primeira lição não poderia ser outra: a primeira letra do alfabeto, gordinha e impecavelmente redonda, um grande desafio àquelas mãos trêmulas. Era destro, mas a esquerda auxiliava o trabalho segurando o caderno com tanta intensidade que parecia que alguém logo ia roubá-lo.<br /><br />A procura pelo “a” perfeito durou uma tarde, mas nas próximas aulas já demonstrava maior facilidade na “dança das mãos”, como ele chamava carinhosamente o movimento de escrever. Apesar da demora para adquirir o nível mínimo de habilidade e conhecimento que precisava, o tempo foi justo e aprendeu o necessário para surpreender Maria, sua esposa.<br /><br />Na manhã do seu aniversário de casamento falou à Maria que tinha uma surpresa, mas para isso a esperaria sob árvore da praça central, às 15h. A árvore marcava o primeiro encontro e a primeira vez que ele pegou em suas mãos. Foi sob a mesma árvore que passaram as longas tardes de domingo, quando levavam os filhos ainda pequenos para tomar sol.<br /><br />Maria chegou pontualmente às 15h e lá estava ele, com as mãos sujas. Ele saiu de frente da árvore. Lá deixou três letras dentro de um coração: P e M.<br /><br />E foi sob a mesma árvore que as lágrimas escorreram pelo rosto de Maria de uma forma jamais vista por Paulo.<br /><br /><br /><br />.Suelen Safianohttp://www.blogger.com/profile/13596213623669066228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-895821915039642795.post-66666313088207071652010-06-18T13:15:00.002-03:002010-06-18T13:16:15.684-03:00PoesiaPorque a vida não é uma poesia?<br />Se fosse, o céu seria sim de algodão<br />E os carros não existiriam.<br />Apenas bicicletas e barquinhos<br /><br />Porque a vida não é uma poesia?<br />Se fosse, o ódio seria até charmoso<br />E o negro não seria necessariamente sombrio<br />E o branco não significaria necessariamente a paz <br /><br />Porque, diabos, a vida não é uma poesia?<br />Se fosse, sexo seria apenas sob a luz da lua<br />E nadar nu seria prudente em qualquer tarde ensolarada<br />E sempre teria um belo lago depois da vírgula<br /><br />Porque a vida não é uma poesia?<br />Se fosse, morrer ganharia leveza<br />E seria glorioso ter uma morte poética<br /><br />Porque a vida não é uma poesia?<br /><br /><br /><br />.Suelen Safianohttp://www.blogger.com/profile/13596213623669066228noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-895821915039642795.post-37029665778876766252010-06-17T17:42:00.000-03:002010-06-17T17:43:26.423-03:00CorrerEla saiu correndo. Dizem que a lavoura de trigo é uma das mais bonitas e foi exatamente ali que ela parou. Seus olhos encheram-se de lágrimas, nem ela sabia de onde vinha aquela água, e continuou correndo. Era esse o objetivo. Correr.<br /><br />Ela se divertia. Ria e corria. Como se fosse a única e a melhor coisa a se fazer na vida.<br /><br />Ela cresceu e ainda corre. Mas nunca mais foi tão divertido correr. Ela corre pra pegar o metrô. Pra fugir do mal tempo. Pra não se atrasar. E corre toda a segunda-feira, quando decide ir pra academia, pra emagrecer.<br /><br /><br /><br />.Suelen Safianohttp://www.blogger.com/profile/13596213623669066228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-895821915039642795.post-70114242561494057852010-06-16T13:18:00.001-03:002010-06-16T13:20:03.681-03:00UtopiaAs empresas resolveram trabalhar meio-período naquela semana. Estavam todos mobilizados. Cada um sabia na ponta da língua a vida, o histórico, o objetivo e a linha de todos eles.<br /><br />Dessa vez não teria como errarmos. Sim, o Brasil vai ganhar só tem o que ganhar. Todos unidos, pensando no bem do nosso país, pensando como seria valorosa a conquista dessa vitória. Pelas ruas ouvia-se em uníssono: <span style="font-style:italic;">Vai Brasil! Chegou a nossa hora.</span><br /><br />Era até emocionante de ver. Era inacreditável.<br /><br />Época de eleição nunca foi assim. Então eu acordei com o barulho da maldita vuvuzela. Ainda é copa, o povo não tem tempo para pensar que estamos beirando a falência do nosso país. É ano de eleição e o temor toma conta de mim. Só de mim?<br /><br /><br />.Suelen Safianohttp://www.blogger.com/profile/13596213623669066228noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-895821915039642795.post-10321293072418348342010-04-27T16:56:00.005-03:002010-04-27T17:25:20.184-03:00ElaEla escrevia. Ele lia. Já apaixonado, delirava com a frase bem construída, enlaçava a sua mente com a fantasia e por alguns segundos vivia apenas aquele momento. Era gratificante. Chegava a sonhar. Ficava excitado com os personagens, com as tramas.<br /><br />Ele a achava doce e sensual. Ela, apenas escrevia. As palavras surgiam, se amontoavam e as belas histórias nasciam. E ele, cada vez mais apaixonado, queria apenas a continuação. Nada tinha mais importância no mundo do que lê-la por uma história.<br /><br />No dia seguinte, na capa do jornal anunciava a sessão de autógrafos. Entusiasmado, correu os olhos para o caderno, ver se aparecia uma foto. Mas nada.<br /><br />Ele não queria ficar no anonimato, pelo menos queria saber com quem deveria sonhar. Chegou à sessão de autógrafos. Ela, na verdade, era ele. E bem barbudo por sinal.<br /><br /><br /><br /><br />.Suelen Safianohttp://www.blogger.com/profile/13596213623669066228noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-895821915039642795.post-19774848390440879082010-04-23T13:57:00.003-03:002010-04-23T14:05:30.471-03:00ChuvaEra apenas uma gotinha <br />que escorregava pela janela em ritmo de valsa,<br />perdida naquele cenário cinza e triste.<br /><br />Era apenas uma gotinha<br />que antes de cair<br />espiou o casal de namorados.<br /><br />Era apenas uma gotinha<br />à procura de uma janela interessante para visitar<br /><br />Era apenas uma gotinha<br />num mundo inteiro para mergulhar.<br /><br />Era apenas uma gotinha<br />que apaixonada pelo Rio de Janeiro resolveu fazer uma festa<br />uma gotinha popular, que convidou todo o mundo para participar.<br /><br />Era apenas uma gotinha<br />que se sentiu culpada pelos danos causados aos fluminenses<br />e chorou, até não poder mais.<br /><br /><br /><br /><br />.Suelen Safianohttp://www.blogger.com/profile/13596213623669066228noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-895821915039642795.post-36034232762170056982010-04-05T19:20:00.001-03:002010-04-05T19:31:59.675-03:00Apresentando - HancorniaA brincadeira favorita era ir ao mundo dos gentianos. Diversão garantida nos dias de chuva.<br /><br />Eles deitavam na cama e bastava rolar apenas uma vez para a esquerda que o chão se transformava em um lindo céu, que além do azul, exibia nuvens nas cores do arco íris. Coisa linda de se ver.<br /><br />Ele usava uma bermuda azul marinho, no mesmo tecido dos uniformes escolares, e uma regata listrada. Ela usava branco e cinza.<br /><br />A afinidade dela era com o gentiano que tinha apenas um olho, localizado no meio da testa, já o dele, exibia um belo par de orelhas pontudas. Fora o tamanho daquele povo, a semelhança com os humanos era grande, a particularidade daqueles seres é que cada um tinha um dos sentidos mais aguçados. O olho no meio da testa, que pareceria uma deficiência para nós, era motivo de orgulho para aquele povo, era o que os destacava.<br /><br />Lá não chovia e, apesar de não se saber exatamente onde ficava o mundo dos gentianos, eles acreditavam que quando caía água na terra, o sol chegava no outro mundo. Neste dia eles apenas passearam.<br /><br /><br /><br /><br />.Suelen Safianohttp://www.blogger.com/profile/13596213623669066228noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-895821915039642795.post-1362217168446657712010-03-26T16:46:00.001-03:002010-03-26T16:46:44.959-03:00SonsTum, tum, tum.<br />Ouviu Suzana, que cheia de medo foi abrir a porta de sua casa.<br /><br />Era o coração de Maciel, que entoava uma música incrivelmente mais linda que “I don't want to miss a thing”.<br /><br /><br />Trimmmm.<br />Ouviu Suzana, que jogou o despertador contra a parede.<br /><br />Era o sonho mais lindo, que acabava ao som irritante do despertador.<br /><br /><br /><br /><br />.Suelen Safianohttp://www.blogger.com/profile/13596213623669066228noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-895821915039642795.post-7866933178714921492010-03-25T17:50:00.003-03:002010-03-25T17:53:11.362-03:00EmpoeiradoAbandonado.<br />Rejeitado.<br />Reclamava o hibiscus depois de 5 meses que viu o último ponto final.<br /><br /><br /><br /><br />*Suelen Safianohttp://www.blogger.com/profile/13596213623669066228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-895821915039642795.post-64228404529984500922009-10-02T15:12:00.002-03:002009-11-25T14:00:07.170-02:00Maldito MurphyCorria, corria, corria... O motorista do ônibus sequer notou que o desespero de Antonio, que estava atrasado para sua entrevista de emprego, a primeira, desde sua demissão em 2007.<br />Antônio acordou às 7h. Ele é vendedor, tem boa lábia, boa aparência, mas nenhuma sorte, ou, para os céticos, ele é muito atrapalhado. Tomou banho, barbeou-se, ligou o rádio, tomou café. Dia de sorte, pensou ele.<br />Sua camisa estava amassada, passou a camisa, costurou a calça e preparou o café. Passou manteiga no pão. O pão caiu, com a manteiga para baixo, na sua única camisa limpa. Antonio soltou um palavrão, daqueles bem feios.<br /><span style="font-style:italic;">Lei de Murphy:</span> A probabilidade de o pão cair com o lado da manteiga virado para baixo é proporcional ao valor do carpete. No caso, da única camisa limpa.<br /><br />Passou um pano e conseguiu dar um jeito na meleca. Terminou de comer. Estava adiantado, resolveu dar uma lida no currículo, lembrar de coisas interessantes para falar, pensou em habilidades que não tinha, mas que contaria pontos positivos na escolha do entrevistador.<br />- Falar inglês é sempre bom. É isso. <br />Treinou um “yes I speak English”. Estava preparado. Levantou do sofá e sentiu um frio nas nádegas. Tinha sentado sobre o pano que limpou a manteiga da camisa, sua calça ficou cheia de gordura. Nada escandaloso, porém perceptível.<br />Foi até o armário pegar outro pano, bateu o dedinho do pé na quina da mesa. E de lá soltou outro palavrão. Mais cabeludo que o primeiro.<br /><span style="font-style:italic;">Lei de Murphy:</span> Acontecimentos infelizes sempre ocorrem em série.<br /><span style="font-style:italic;">Lei de Murphy:</span> Mesmo o objeto mais inanimado tem movimento suficiente para ficar na sua frente e provocar uma canelada. O caso, uma dedada.<br /><br />Já estava se atrasando.<br /><span style="font-style:italic;">Lei de Murphy:</span> Tudo leva mais tempo do que todo o tempo que você tem disponível.<br /><br />Saiu correndo para o ponto, viu o ônibus apontando na esquina. Correu mais, e mais, entretanto, o motorista sequer notou que o desespero de Antonio, que estava atrasado para sua entrevista de emprego, a primeira, desde sua demissão em 2007.<br /><span style="font-style:italic;">Lei de Murphy:</span> Se alguma coisa pode dar errado, dará. E mais, dará errado da pior maneira, no pior momento e de modo que cause o maior dano possível.<br /><br />Antonio chegou atrasado na entrevista. Não foi desta vez. Soltou um palavrão pior ainda.<br /><br /><br /><br /><br />.Suelen Safianohttp://www.blogger.com/profile/13596213623669066228noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-895821915039642795.post-49631844281977241992009-07-23T12:13:00.003-03:002009-07-23T12:17:05.811-03:00É confortável - Na íntegra<span style="font-weight:bold;">Parte I</span><br /><br /> Esse tal amor nos prega peças ao longo da vida. Um dia ele aparece puro e inocente e fica no portão de casa, com medo do flagrante pelo pai ou pela mãe. Aos poucos ele amadurece e nunca sabemos se o assunto tratado é o mesmo, nem sempre reconhecemos o que é o amor. Nos enganamos, nos enganam e em todo este período ele aparece em diversos aspectos.<br /><br /> De acordo com os dados do Registro Civil fornecido pelo IBGE, 17.349 pessoas se casaram em Curitiba em 2007, durante o mesmo período 1.987 divórcios foram concedidos e entre tantas pessoas poderia estar dona Angelique, mas não se divorciou, muito menos casou.<br /><br /> Aos 50 anos dona Angelique lembrava que já teve três namorados, um marido, quatro filhos e sete netos durante sua vida e segura de si esperava o dia em que a morte a pegaria pelas mãos e a levaria para sempre, em direção ao desconhecido.<br /> Atualmente 50 anos é pouca coisa, mas dona Angelique se desgastou muito durante a vida. Ao encontrá-la qualquer pessoa daria 65 anos sem temer, pensando em fazer logo um elogio, pois aquela senhora certamente teria mais que isso.<br /><br /> Dona Angelique se tornou uma feia senhora, daquelas que crianças tremem ao encontrar pela rua. No ônibus os bebês choram ao perceber seu olhar seco e árduo.<br /><br /> Com as mãos mais enrugadas que o rosto, dona Angelique segurava a sua bengala e passeava pelo parque São Lourenço naquela manhã. Foi quando o viu correr. Seu coração disparou, segurou firme na bengala, respirou fundo e ajeitou o cabelo, com a esperança de melhorar alguma coisa.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight:bold;">Parte II</span><br /> O desejo não tem idade, não tem cor, não tem gosto, não tem cheiro. Engana-se quem pensa que os velhinhos são todos como dona Angelique, que vive à espera do dia em que a morte bater em sua porta.<br /><br /> Naquela manhã dona Angelique entendeu o que é atração. <br /><br /> É com a atração que tudo começa. Essa palavra tão pequena provoca o primeiro beijo, a carona para casa, o convite para um jantar. É com a atração que o amor acontece, que o sexo acontece, que o compromisso acontece, talvez isso justifique o faturamento de R$21 bilhões da indústria de cosméticos em 2008, conforme a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec) . As pessoas procuram ficar bem para as outras, procuram se sentir belos.<br /><br /> Dona Angelique não tinha mais jeito, não havia cirurgia que melhorasse aquele rosto horrível. Mas naquela manhã ela não pensou muito nisso. Apenas admirou o monumento humano que ao correr parecia que dançava levemente sobre as nuvens.<br /><br /> Ela desejou. Nunca havia sentido isso, nem com seu falecido marido. O desejo corria por suas veias, passava por todos os seus órgão e por dois minutos se sentiu no céu, como se estivesse correndo com seu anjo sobre as nuvens.<br /><br /> O tempo começou a fechar e com a queda da primeira gota de chuva voltou à realidade, foi para casa e antes mesmo de sair do parque já pensava em antecipar a caminhada no dia seguinte.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight:bold;">Parte III</span><br /><br /> De acordo com o senso demográfico do IBGE, 23.953 mulheres com idade entre 60 e 64 anos residiam em Curitiba em 2000. Dona Angelique tem 50 anos, mas aparentemente faz parte desse grupo.<br /><br /> Na tarde que seguiu aquela manhã de flertes e desejo, dona Angelique sonhou acordada. Acostumada a cochilar às 15h respirou fundo antes de fechar os olhos e quando soltou o ar disse, com o tom de voz baixo, quase inaudível:<br />- O amor é confortável.<br /><br /> Depois de 50 anos foi entender o quanto é gostoso sentir o arrepio que passa por toda a coluna e inexplicavelmente vai parar no couro cabeludo, onde pousa por alguns segundos e de repente desaparece, deixando apenas o rosto rosado e uma agradável palpitação no coração. O sentimento, em qualquer que seja o seu formato, nos engana e ao decorrer de toda a vida é isso que manifesta a confusão do que realmente se sente.<br /><br /> O amor é confortável, mas não é para todos. É necessário que haja um certo grau de sensibilidade e humanismo, sem esses e alguns outros sentimentos não é possível sentir, não é possível permitir que se sinta, nem que sintam por nós.<br /><br /> É uma entrega, muitas vezes ingrata. Que pode acontecer a qualquer momento, como com dona Angelique.<br /><br /> Naquela tarde teve o sono mais agradável da sua vida.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight:bold;">Parte IV</span><br /><br /> Curitiba, 06 de março de 2007. Máxima prevista: 28ºC Mínima:20ºC<br />Sensação: 45ºC (na sombra)<br /><br /> Com esse calor Dona Angelique caminha no parque apenas pela manhã, antes das 9h e faz uma semana que não o encontra.<br /><br /> Ela estava um pouco cansada e sentou-se no banco, olhou para o lado direito e resmungou como todas as senhoras chatas fazem. Virou para o esquerdo e se assustou, lá estava ele, sentado ao seu lado e ela não sabia o que fazer, seu coração começou a bater mais forte, colocou um sorrisinho sem graça no rosto e fez de conta que não se importou com aquela aproximação tão desejada. De repente ele virou para ela e disse, como um bom curitibano:<br /><br />- Que calor que faz nessa cidade!<br /><br /> Ela não sabia o que responder, mesmo o comentário simples. Será que falaria da sua pressão? A dúvida a torturava, mas conseguiu:<br /><br />- Verdade, parece que cada ano piora.<br /><br /> Dona Angelique se saiu bem, e começaram a conversar. Ficaram pouco tempo, pois o sol estava cada vez mais forte e não tinha nenhuma nuvem no céu. O nome dele é Valentin, ao contrário de Dona Angelique ele parece ser mais novo.<br /><br /> Ouvir a voz dele foi mais que estar no céu.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight:bold;">Parte V</span><br /><br /> Durante a juventude dona Angelique não se preocupou em cultivar amizades. Em um determinado momento de sua vida achou que aquilo era uma grande falha, mas já era tarde. Não havia lista de telefones, não visitava amigos para tomar chá, café ou, quem sabe, uma boa cerveja.<br /><br /> Ela não era popular e mesmo que fosse sua personalidade não manifestava amizades. Não ter ninguém pode parece atraente em alguns dias, mas viver na profunda solidão aos 50 anos, sem ter alguém com idéias próximas o suficiente que renda dias e noites de tagarelice, parece tortura. Dona Angelique, além de uma senhora muito feia é muito chata, mas esta disposta a mudar isso para se aproximar de Valentin.<br /><br /> Hoje pela manhã, enquanto estava no parque o encontrou. Se cumprimentaram e ele continuou a correr. Mas logo voltou.<br /><br /> Quando o amor aparece precisa ser confortável, para que isso aconteça é necessário ser correspondido. Naquela manhã dona Angelique entendeu perfeitamente.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight:bold;">Parte VI - Final</span><br /><br /> Pi... Pí... Pi...<br /><br /> -Porque não se calam?! Porque não desligam essa porcaria que não para de apitar na minha cabeça?!<br /><br /> É 21 de junho de 2007, exatamente início de inverno. Valentin não conseguia falar e se irritava com um apito que parecia estar muito próximo de seu ouvido. Começou a pensar em dona Angelique. Não parava de pensar em dona Angelique.<br /><br /> Valentin não conseguia movimentar os pés. Queria sair correndo, mas além de imóvel estava tudo escuro, ele não conseguia gritar, não conseguia chamar por alguém para tirá-lo dali.<br /><br /> Exausto pelas tentativas mal sucedidas de se movimentar de qualquer maneira, caiu no mais profundo sono e sonhou.<br /><br /><br /><br /><br /> Era início do inverno e Valentin corria no Parque São Lourenço. Ele a encontrou.<br /> Dona Angelique segurava firme a sua bengala, estava mais corajosa que nunca. Sem falar uma palavra aproximou-se de Valentin, suspirou e com os olhos cheios de lágrimas deu-lhe um beijo na testa.<br /> A calmaria chegou no seu coração e logo voltou a ouvir aquele apito irritante. Pi... Pi... Pi... E disse, em seu último suspiro:<br />- O amor é confortável.<br /><br /><br /><br /> Valentin passou os últimos cinco anos em coma, num hospital de Curitiba. Nunca conheceu dona Angelique, ela nunca existiu, mas o período desses cinco anos foi mais real e intenso do que já viveu longe daquele hospital.Suelen Safianohttp://www.blogger.com/profile/13596213623669066228noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-895821915039642795.post-85597230579158531502009-06-19T23:09:00.007-03:002009-06-20T00:04:36.058-03:00É confortável - Parte VI - FinalEsta é uma continuação de "É confortável - parte <a href="http://hibiscusmutabilis.blogspot.com/2009/01/o-amor-confortvel.html">I</a>, <a href="http://hibiscusmutabilis.blogspot.com/2009/01/e-confortavel-parte-ii.html">II</a>, <a href="http://hibiscusmutabilis.blogspot.com/2009/02/e-confortavel-parte-iii.html">III</a>, <a href="http://hibiscusmutabilis.blogspot.com/2009/03/e-confortavel-parte-iv.html">IV</a> e <a href="http://hibiscusmutabilis.blogspot.com/2009/03/e-confortavel-parte-v.html">V</a>"<br /><br /><br /><br /><span style="font-style:italic;"><br /><br /><span style="font-style:italic;">Pi... Pí... Pi...</span><br />-Porque não se calam?! Porque não desligam essa porcaria que não para de apitar na minha cabeça?!</span><br /><br />É 21 de junho de 2007, exatamente início de inverno. Valentin não conseguia falar e se irritava com um apito que parecia estar muito próximo de seu ouvido. Começou a pensar em dona Angelique. Não parava de pensar em dona Angelique.<br /><br />Valentin não conseguia movimentar os pés. Queria sair correndo, mas além de imóvel estava tudo escuro, ele não conseguia gritar, não conseguia chamar por alguém para tirá-lo dali.<br /><br />Exausto pelas tentativas mal sucedidas de se movimentar de qualquer maneira, caiu no mais profundo sono e sonhou.<br /><br /><br /><br /><br /><br />Era início do inverno e Valentin corria no Parque São Lourenço. Ele a encontrou.<br /><br />Dona Angelique segurava firme a sua bengala, estava mais corajosa que nunca. Sem falar uma palavra aproximou-se de Valentin, suspirou e com os olhos cheios de lágrimas deu-lhe um beijo na testa.<br /><br />A calmaria chegou no seu coração e logo voltou a ouvir aquele apito irritante. <span style="font-style:italic;">Pi... Pi... Pi...</span> E disse, em seu último suspiro:<br />- O amor é confortável.<br /><br />Valentin passou os últimos cinco anos em coma, num hospital de Curitiba. Nunca conheceu dona Angelique, ela nunca existiu, mas o período desses cinco anos foi mais real e intenso do que já viveu longe daquele hospital.<br /><br /><br /><br /><span style="font-style:italic;">Fim</span><br /><br /><br /><br />.Suelen Safianohttp://www.blogger.com/profile/13596213623669066228noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-895821915039642795.post-77271908006667660502009-05-18T16:55:00.004-03:002009-05-18T17:15:02.540-03:00O amor transformaDeixei o celular para despertar às 6h45 (sempre deixo), mas voltei a dormir e o seu despertou às 7h, como programado todos os dias, até pensei que era mentira que você não estava ao meu lado. Virei para o seu lado, à minha esquerda, mas estava tudo arrumado, nesta manhã não fiquei te admirando, enquanto tentava levantar da cama. Não ouvi o "bom dia" mais preguiçoso e dengoso, aquele que faz cerca de um ano que me transforma lentamente. Nesta manhã você não estava lá.<br /><br />Com o tempo nos acostumamos com cada detalhe, que a mera falta de uma manha desperta a saudade mais verdadeira e profunda que já senti. Nesta manhã não fiz café, acho que ele tem mais sabor com você, quando você senta à mesa comigo e começamos a prever o resto do dia, dizendo que temos reunião, ou tantas outras coisas para fazer. Nesta manhã não precisei lembrá-lo que a noite teremos aula, nem chamei a sua atenção lembrando que você ainda adia a academia.<br /><br />Esta manhã senti saudade.<br /><br /><br />.Suelen Safianohttp://www.blogger.com/profile/13596213623669066228noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-895821915039642795.post-51101201838362525412009-05-11T16:51:00.001-03:002009-05-11T16:53:11.750-03:00Me desculpem!Sei que as coisas estão paradas por aqui, mas prometo que em breve teremos novas postagens (além do meu pedido de desculpa).<br /><br /><br />Um beijoSuelen Safianohttp://www.blogger.com/profile/13596213623669066228noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-895821915039642795.post-67875746160242664192009-03-17T12:05:00.011-03:002009-06-19T23:05:42.939-03:00É confortável - Parte VEsta é uma continuação de "É confortável - <a href="http://hibiscusmutabilis.blogspot.com/2009/01/o-amor-confortvel.html">parte I</a>, <a href="http://hibiscusmutabilis.blogspot.com/2009/01/e-confortavel-parte-ii.html">II</a>, <a href="http://hibiscusmutabilis.blogspot.com/2009/02/e-confortavel-parte-iii.html">III</a> e <a href="http://hibiscusmutabilis.blogspot.com/2009/03/e-confortavel-parte-iv.html">IV</a>"<br /><br /><br /><br />Durante a juventude dona Angelique não se preocupou em cultivar amizades. Em um determinado momento de sua vida achou que aquilo era uma grande falha, mas já era tarde. Não havia lista de telefones, não visitava amigos para tomar chá, café ou, quem sabe, uma boa cerveja.<br /><br />Ela não era popular e mesmo que fosse sua personalidade não manifestava amizades. Não ter ninguém pode parece atraente em alguns dias, mas viver na profunda solidão aos 50 anos, sem ter alguém com idéias próximas o suficiente que renda dias e noites de tagarelice, parece tortura. Dona Angelique, além de uma senhora muito feia é muito chata, mas esta disposta a mudar isso para se aproximar de Valentin.<br /><br />Hoje pela manhã, enquanto estava no parque o encontrou. Se cumprimentaram e ele continuou a correr. Mas logo voltou.<br /><br />Quando o amor aparece precisa ser confortável, para que isso aconteça é necessário ser correspondido. Naquela manhã dona Angelique entendeu perfeitamente.<br /><br /><br /><span style="font-style:italic;">* Continua.</span>Suelen Safianohttp://www.blogger.com/profile/13596213623669066228noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-895821915039642795.post-46517619780105676772009-03-11T10:47:00.004-03:002009-03-11T11:12:37.961-03:00Banhar os pésEste verão foi diferente. Não senti as águas do atlântico banhando meus pés, não assisti ao pôr do sol de camarote, não revi grandes amigos. Senti saudades.<br /><br />Em novembro de 2007 saí de férias e no primeiro dia coloquei a mochila nas costas. Destino? Sim, eu tinha um, Ilha do Mel. Estive lá apenas duas vezes antes de novembro de 2007, mas nunca foi igual. Em novembro foi incrível. Estou com saudades.<br /><br />Conheci pessoas, caminhei sobre cada pedacinho da ilha, vi cada figura, personalidades, estrangeiros, encontrei amigos. Aprendi muita coisa em pouco tempo. A vi lotada, deserta, em um dia de semana normal, em um final de semana agitado. Fui para ficar 15 dias, mas não sei quanto tempo fiquei. Amei aquele lugar, me senti em casa, com família. Sinto saudades.<br /><br />O jardim era o resto do mundo com a paisagem mais bela que pude olhar, tinha música o dia inteiro e quando não era um pássaro era um violão, jamais esquecerei cada segundo daquele novembro de 2007. Sempre sentirei saudades.<br /><br /><br />.Suelen Safianohttp://www.blogger.com/profile/13596213623669066228noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-895821915039642795.post-50765649896148850542009-03-06T11:01:00.005-03:002009-06-19T23:02:39.500-03:00É confortável - Parte IVEsta é uma continuação de "É confortável - <a href="http://hibiscusmutabilis.blogspot.com/2009/01/o-amor-confortvel.html">parte I</a>, <a href="http://hibiscusmutabilis.blogspot.com/2009/01/e-confortavel-parte-ii.html">II</a> e <a href="http://hibiscusmutabilis.blogspot.com/2009/02/e-confortavel-parte-iii.html">III</a>"<br /><br /><br /><br />Curitiba, 06 de março de 2007. Máxima prevista: 28ºC Mínima:20ºC<br />Sensação: 45ºC (na sombra)<br /><br />Com esse calor Dona Angelique caminha no parque apenas pela manhã, antes das 9h e faz uma semana que não o encontra.<br /><br />Ela estava um pouco cansada e sentou-se no banco, olhou para o lado direito e resmungou como todas as senhoras chatas fazem. Virou para o esquerdo e se assustou, lá estava ele, sentado ao seu lado e ela não sabia o que fazer, seu coração começou a bater mais forte, colocou um sorrisinho sem graça no rosto e fez de conta que não se importou com aquela aproximação tão desejada. De repente ele virou para ela e disse, como um bom curitibano:<br />- Que calor que faz nessa cidade!<br /><br />Ela não sabia o que responder, mesmo o comentário simples. Será que falaria da sua pressão? A dúvida a torturava, mas conseguiu:<br />- Verdade, parece que cada ano piora.<br /><br />Dona Angelique se saiu bem, e começaram a conversar. Ficaram pouco tempo, pois o sol estava cada vez mais forte e não tinha nenhuma nuvem no céu. O nome dele é Valentin, ao contrário de Dona Angelique ele parece ser mais novo.<br /><br />Ouvir a voz dele foi mais que estar no céu.<br /><br /><br /><br /><span style="font-style:italic;">*Continua</span>Suelen Safianohttp://www.blogger.com/profile/13596213623669066228noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-895821915039642795.post-42676282910991048692009-02-22T17:27:00.005-03:002009-02-22T18:22:22.723-03:00Viagem de tremDe acordo com as estimativas da OMS, a esquizofrenia atinge cerca de 24 milhões de pessoas no mundo todo.<br /><br />Eu passeava feliz, estava em um trem com a minha família, quando a velocidade em que os vagões percorriam sobre os trilhos começou a me assustar. Aquele momento foi decisivo.<br /><br />Todos começaram a saltar do trem, mas minha irmã ficou. Eu não poderia deixá-la naquele vagão. Foi quando a agarrei e tentaria saltar com ela. Foi um ato de coragem e eu conquistei a vitória.<br /><br />Lembro que era loira e aquele acidente destruiu o bairro de uma bela cidade. Eu ainda não tinha filhos, mas logo os viria Caroline, Albert e Stéphanie, nesta ordem. Sou uma atriz, me chamo Grace Kelly, sou a favorita de Alfred Hitchcock. Só não entendo porque as pessoas duvidam da minha história, não acreditam em mim.<br /><br />Quando cheguei aqui contava sobre a perseguição que sofria, certamente um dia essas pessoas irão me encontrar e certamente não haverá quem duvide de mim. Ouço gritos que me apavoram, pioram toda a noite, certamente após a enfermeira me envenenar. Quando estou bem ela vem com remédios e mais remédios e meu medo aparece. Não quero falar com mais ninguém.<br /><br />O acidente aconteceu na década de 50 e hoje passa na minha memória como um filme antigo. Você acredita em mim?<br /><br /><br />.Suelen Safianohttp://www.blogger.com/profile/13596213623669066228noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-895821915039642795.post-29210190125952984232009-02-08T09:25:00.003-02:002009-02-08T10:05:59.376-02:00CaféEle apareceu sisudo na cafeteria (uma das melhores do Mercado Municipal de Curitiba), pediu o de sempre. Poucos minutos depois seu expresso estava pronto e lia o jornal do dia.<br /> <br />A capa anunciava a visita do presidente da República, Lula, e sua esposa Marisa ao vice-presidente José de Alencar, que retirou alguns tumores do abdome em janeiro e se recuperava no Hospital Sírio-Libanês, que fica em São Paulo. Enquanto o presidente e seu vice riam felizes na capa, muitas pessoas ainda dormiam em suas casas, algumas estavam no mesmo café que aquele senhor, outras não estavam. No verão as pessoas enchem as praias todo o final de semana, uns tentavam curar o porre de sábado com a última coca da geladeira, alguns casais acordavam e outros estavam acordados há horas, pois o filho recém-nascido desperta exatamente às 5h, inclusive no domingo.<br /><br />Enquanto tudo isso acontecia o presidente da República e o então recuperado vice-presidente riam na capa dos jornais de domingo. Tudo parecia estar bem. Só saberemos como as coisas realmente estão quando explodirem nas capas de segunda-feira, onde até os jornais deixam de ser leves e se tornam reais.<br /><br /><br /><br />.Suelen Safianohttp://www.blogger.com/profile/13596213623669066228noreply@blogger.com5