Falar sobre a infância não é fácil para muitos. Em alguns é manifestado o profundo suspiros e em outros tudo isso aparece acompanhado de olhos cheios de lágrimas. Foi o que aconteceu com o seu Manoel.
O conheci em uma manhã em que o calor do sol ardia sobre a pele. Seu Manoel tem os olhos mais azuis que já vi, a história mais emocionante que já ouvi e os conselhos mais inesperados que recebi.
Trabalhador desde criança, gostava de se aventurar nadando em rios "quando chovia forte", enfatizou demonstrando sua bravura com os benefícios da natureza. A chuva forte era quesito para seu tempo de lazer, nesta época tinha entre 6 e 10 anos.
“Brigava com a morte diariamente”, diz seu Manoel emendando um longo suspiro, que não deixou dúvida sobre a saudade do passado. Com 62 anos lembra de todos os detalhes daquelas tardes e ao citar isso seus olhos pareciam um rio quando chove. Mas que não transborda.
Para segurar um pouco a emoção colocava a mão sobre o rosto, me olhava por entre os dedos, desviava o olhar para o teto e continuava a contar sua vida. Quando não conseguiu mais segurar, secou a lágrima que escorreu do seu olho direito respirou fundo mais uma vez e disse: "sabe, além de tudo sou conselheiro, dou conselhos às pessoas e o meu conselho para você é que coma. Coma mesmo, não passe fome como essas modelos".
Seu Manoel soltou uma longa risada e agradeceu pela "gostosa conversa".
(entre tantas de pessoas que converso na minha profissão, o seu Manoel foi uma das mais fantásticas)