sábado, 30 de agosto de 2008

A solução é esquecer o que é limite

No infinitivo o verbo se apresenta na sua forma mais clara. O simples fato de viver e não deixar o verbo estacionar no terrível gerúndio (vivendo) ou no particípio (vivido), que parecem tão desprezíveis para a o significado da palavra, torna o pensamento no infinitivo mais atraente.

Mas afinal, o que é viver? Certamente cada um, com sua subjetividade, encontra o próprio significado. Pode ser escalar os Alpes Suíços com roupas especiais, e depois da aventura, chegar em um belo chalé e tomar um saboroso capuccino, acender a lareira e ficar à toa.

Há quem prefira estabeleber metas, conhecer três lugares diferentes por ano, ir à praia ou talvez não fazer nada, para não tirar a vida dos eixos. Há diversas maneiras de aproveitar o verbo.

Mas será que o viver é diretamento ligado à aventura e à tranquilidade? Não vivamos nós, no imperativo negativo, sem a adrenalina que faz as bochechas ficarem vermelhas. Não vermelhas do frio ou do calor, mas das sensações que nos cercam.

Por isso, posso afirmar que nós vivamos, no presente do subjuntivo, seja com o chalé confortável, com a bela paisagem dos Alpes ou a conjugação do próprio verbo. Talvez seja mais simples que tudo isso, basta esquecer o significado da palavra limite.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Quando tudo começou

Não sei ao certo qual foi o dia e a hora, mas eu lembro quando fui apresentada à letra "a", a professora Adriana disse: a, de anel... Não sei quantos anos eu tinha, mas foi amor a primeira vista. Tenho dúvida se foi "u" de urso ou de uva.

Achei aquilo tão incrível. Minha mãe não tinha o costume de perguntar o que eu tinha aprendido na escola, e ela não tem idéia de como eu queria falar. Eu tirava notas boas, sempre tirei (até eu conhecer a faculdade) e lembro que todo o final do ano, quando ela chegava em casa para almoçar eu fazia uma ceninha, me debruçava na cama e muito mal eu simulava um choro, chegava a soluçar, ela me perguntava o que tinha acontecido e eu dizia rindo:

- Reprovei de ano!

Ela certamente nunca nem pensou em acreditar e apesar de quase não comparecer nas reuniões com os pais, ela sabia como eu ia bem. Lembro uma vez, que a lição de casa era achar umas 10 palavras com as letras x, ch, ss, sc, mas eu gostava mostrar dedicação aos professores e disse para a minha mãe um número absurdo, coisa de umas 50 palavras. E eu as procurei.

Não lembro ao certo quando foi a primeira leitura que fiz, mas foi de um livro que eu gosto muito, "O Pequeno Príncipe", foi uma farmacêutica o emprestou à minha mãe.

O mundo dos livros apareceu na minha vida surpreendemente, com um dos melhores livros que li em toda a minha vida. Depois de "O Pequeno Príncipe" apareceram muitos outros. Muitos mesmo! Acho que o segundo era de uma comunidade de parafusos e a base educacional deste livro era sobre preconceito.

Quando eu estava na 8ª série ganhei meu primeiro concurso literário. Lembro que na sexta-feira a secretária do "sempre" vereador Jair César ligou na minha casa, disse que no dia seguinte haveria a entrega dos prêmios, e mais uns blá, blá, blás. Eu como uma escritora orgulhosa, mas na verdade desacreditada não compareci. Na segunda-feira eu cheguei na escola e todos me contaram.

Entrei em um mundo construído por muitas letras que parece não ter fim.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Cachoeira

É engraçado que com o tempo sentimos a obrigação de sempre postar alguma coisa no blog. Antes da existência do Hibiscus tive anos de atraso devido a minha profunda preguiça de selecionar meu Layout. Preguiça da melhor qualidade e intensidade.

Passei anos escrevendo coisas em papéis que eu nunca mais encontrarei. Pode parecer estranho, mas era interessante pegar o ônibus no domingo de tarde, normalmente meu destino era o MON (Museu Oscar Niemeyer), ou o Largo da Ordem mesmo. Na verdade acho que era mais o Largo da Ordem do que o próprio museu que me atraía para o centro de Curitiba nas tardes cinzentas de domingo.

O fato é que eu normalmente carrego comigo algum papel e material para escrever, normalmente uma caneta. Perdi dezenas de textos, bons ou não, eu não sei, não deu tempo de ninguém lê-los, mas me lembro bem do dia da "Cachoeira".

Eu estava sentada (gosto de ficar no fundo do ônibus, assim consigo ver todas as pessoas que entram), e ela entrou.

- Cachoeira! Cachoeira!

Ela olhava com fervorosidade, buscava a atenção de alguém. Meu pensamento se uniu a todos os outros, pensamos juntos! Ela só poderia ser louca, concluiu meu pensamento que interagia com os outros através de olhares acusadores e medíocres.

Ela sentou na minha frente, ao lado de um senhor, olhou para ele e disse:

-Cachoeira, esse vai para cachoeira?

Sem dizer uma paravra e quase sem se mexer, aquele senhor vergonhosamente fez com a cabeça que não. Mas ela estava muito agitada, não sosegaria com nenhuma resposta morna. Ela esperava a convicção de alguém, a certeza de que chegaria até a Cachoeira que tanto procurava.

Ela se levantou, caminhou entres os bancos continuou a pronunciar:
- Cachoeira! Cachoeira!

Descontente saltou na próxima estação tubo. Os olhares deixaram de ser medíocres, em poucos segundos meu pensamento não interagia com nenhum outro.

domingo, 10 de agosto de 2008

Segundo domingo de agosto

Eu queria te entregar aquela gravata brega, feita de papel quando eu tinha 7 anos. Adoraria ver a sua carinha nas apresentações da escola, eu estava lá, mas você não. Em outros anos poderia te dar um presentinho estranho como um perfume fedido, uma bola furada ou meu melhor brinquedo, mas o que eu queria mesmo era dar aquele abraço e dizer que eu amo você.

Faz alguns anos que o dia dos pais se tornou um ato fúnebre, mas esse ano eu foi diferente. Não fiz nada, não chorei o dia inteiro e não pensei em tudo o que perdi nesses anos todos, mesmo que dentro de mim ainda exista aquela vontade de dizer apenas uma vez: feliz dia dos pais.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

A bruxa da Ilha do Mel


Caminhando pela praia, um riso alto! Estridente! E uma mulher com um chapéu e um belo vestido chama a atenção das pessoas.
- Hahahahahaha!
Uma voz rouca. No início eu nem acreditei, mas tive a oportunidade de ver a Vezuvia, a bruxa mais famosa da Ilha do Mel! E eu acho que é a única.

Ela é linda, cheirosa, temperamental, mulher! É tudo o que uma bela bruxa tem. A Vezuvia dança, canta, toca instumentos. Quanto menos os turistas esperam ela aparece e elegantemente alegra a ilha.

Os moradores contam que antigamente ela chegava até a Casa da Lua em um pequeno barco. Teve também a época que a Vezuvia passeava pela ilha com um duende, mas o tempo deste duende passou rápido, ele cresceu e a bruxa continuou por lá.

"Bom normalmente era para festas, mas das poucas vezes que saimos juntos, pregávamos uns sustos pelos caminhos e interpretávamos alguns quadros de magia, principalmente pra beber a 'bruxinha', que é a bebida flamejante", declarou Hulyan, ex-duende da Vezuvia.

O ex morador da ilha, Jayson Ferreira Belino conta que "a Vezuvia não tinha vassoura, ao invés disso, empunhava um rastelo, desses de jardim".

Quando for para a Ilha do Mel, não deixe de passar na Casa da Lua, um dos poucos lugares onde realmente nos desligamos de todo o resto e curtimos uma ilha de verdade.