Nunca reparei nos sons. Nunca até o ano passado.
Virei recepcionista em uma escola de música e aí, claro, como as outras 90% das pessoas vai se perguntar que instrumento sei tocar, mas não hesitarei em dizer mais uma vez: até nas palmas eu erro o ritmo.
Foi no silêncio daquela recepção e na harmonia das notas aprendi a ouvir. Foram dias sentada naquela cadeira e me empolgava com os alunos novos, que apareciam com as cordas novinhas e a afinação do violão não durava dois dias.
É sentir, sempre a emoção de aprender o primeiro acorde, o primeiro ritmo. É Fazer uma amizade. É com ele que você vai chorar, que vai cantar para seu amor, que vai festejar ao som de uma música alegre. É com ele que você vai brigar e vai colocar a culpa nele em algum momento, falar que ele é o errado.
Pouco tempo depois, você olhará para ele e vai admitir que a culpa é sua. A falta de conhecimento é sua e, para não te deixar para baixo, ele estará melhor do que nunca e vocês festejarão, mais uma vez.
No tempo que trabalhei na escola aprendi a ouvir. Naquele tempo aprendi a falar. Aprendi que não é apenas o cachorro o melhor amigo do homem, o instrumento musical também tem esse papel.
Agora olhe para o seu primeiro violão, o mais barato, o mais detonado, o mais amado.
Aquele é teu bom e velho amigo, que ouviu tantos palavrões, foi colocado de lado algumas vezes, mas aguarda ansioso por suas mãos.